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15 setembro 2010

O gosto do azedo

O cheiro naquele ambiente ainda reserva momentos de agitação e inflexibilidade nos olhos de seus filhos, perdidos em meio a escuridão da terra desconhecida. Suas mãos gélidas e pálidas não se movimentam mais, devido a triste perda dos movimentos. E a solidão lhe apetece, e lhe garante a sombria dúvida de como será o amanhã. O azedo, só lhe sobre desfrutar o maldito gosto do azedo que lhe consumiu a vida e lhe fez amarga. Seus movimentos sempre tão calculados, agora se tornam impossíveis de serem manifestados. E sua boca que só trazia palavras que expressavam o rancor e a melancolia da vida mal cabida a ela, agora só expressava suas lamúrias para que as pessoas sentissem pena dela. A pena, querida amiga, é o sentimento mais triste que pode existir. É o sentimento mais detestável para alguém que tenha um pouco se quer de orgulho. Apenas a pena!
Dias sombrios habitavam a vida daquela mulher solitária, com aquele olhar rancoroso e medonho, com o qual ninguém mais se interessava olhar. Suas palavras duras e seus gestos sempre de imposição agora só lhe garantiam o afastamento das pessoas que um dia lhe observaram com outros olhos. Você não tem mais saída, minha amiga, sua vida agora é assim. Sem movimentos, sem amigos, sem amores, sem ninguém!
Ainda não entendo porque as pessoas têm tanto pavor da solidão. É algo que deve ser preservado se possível, mas entendo o desespero deles, ainda mais porque a solidão é boa quando imposta por nós mesmos, mas quando ela nos sobra como última opção, sim, se torna a maior dor do mundo.
Agora doce mulher, não adianta mais espernear e gritar ao mundo que lhe acolha. Na hora que você devia ter olhado para o lado, você apenas olhou para você, por isso, a única coisa que lhe cabe são as palavras reais de alguém que ainda olha por você.
14 setembro 2010

... a velha casa.

Ainda abriga as coisas mais saborosas do tempo de criança. Ainda reside nela o cheiro do doce ainda em processo, e do abraço ainda caloroso. Mas a casa não abriga as mesmas pessoas, nem as mesmas histórias. Agora existe nela um mundo novo, um mundo feito de aparelhos eletrônicos modernos, de fio e antenas que servem para satisfazer em tudo a vida dos moradores daquele local. O que antes era sustentado por grandes paredes de período colonial, hoje dão espaço a papéis de parede com decoração psicodélica. A dama que morava nela, e se voltava para a vida dentro daquele casulo, hoje está na rua, e não tem mais tempo nem mesmo para apreciar os móveis, as porcelanas, aliás, ela não tem mais apreço para com essas "futilidades" mais. E o senhor da casa, que saia às ruas em busca de dinheiro para o sustento do lar, hoje sabe cuidar das crianças, ou mesmo dividir as contas com a mulher. Inversão de papéis apenas?! Não. Apesar de as mulheres conquistarem sua independência no momento em que os homens abriram os olhos para os cosméticos e surgiu a tão comentada definição: metrossexual. Mas a casa poderia permanecer a mesma, o que não permaneceu no lugar foram os pensamentos, as opiniões dentro da cabeça das pessoas que a habitavam. Mas no sotão, ainda existe a boneca sem uma perna da menina que um dia sabia que poderia conquistar o mundo, e talvez quando bater a solidão e a frustração de que a conquista do mundo não lhe garante a certeza de dias melhores, ela se volte para a boneca e reveja a alegria de uma vida de pequenas alegrias.
07 setembro 2010

... dos amigos.

A brisa leve que paira sobre a cidade de Mariana ameniza minha dor da solidão. Hoje me senti sem ninguém, mesmo tendo alguém ao meu lado. Eu não tinha fome de amores, mas sim de amigos. Onde estão?
É incrível como em meio a tantas opções, tantas pessoas espalhadas pelo mundo, você consegue selecionar um grupo delas, e fazer desse grupo seleto seu maior deleite na relação interpessoal. Pois bem, tal eventualidade nunca foi explicada, mas sabemos que existe, somos prova disso. Afinal, quem nunca teve amigos?!
Os meu amigos, bom, tenho de todos os tipos, para todos os gostos. Alguns amigos que não sabem dizer o quando gostam de você, mas demonstram em pequenas coisas no dia-a-dia. Alguns amigos que têm atitudes inesperadas, mas mesmo assim você acredita que um dia eles vão tomar seu rumo e quem sabe planejar mais seus atos. Alguns amigos que se dedicam ao amor, outros a profissão e outros a família, porque não?! Meus amigos são na maioria estudantes universitários, com 20 e poucos anos e muito amor pra dar. Mas não pense que são todos iguais, porque isso eles não são. São duros, alegres, determinados, companheiros, carinhosos, brincalhões. Enfim, poderia listar muitas qualidade, mas não vou fazer pois gastaria horas e o post ficaria ilegível. Mas bem, se um dia Thiago me disse que eu tinha o "amigo da semana", eu parei e pensei sobre. Não, amigos mesmo eu tenho os da vida, aqueles da semana, podem vir a ser esses, mas os da vida nunca serão só por um tempo. Mesmo os que eu deixei pra trás, me remetem a coisas boas, amigos que se foram cada qual a sua maneira, mas deixaram em mim suas marcas. E por eles eu já chorei, chorei a perda irremediável, a dor de amigos que nunca mais vão voltar. Já pensei sobre os amigos que foram, mas ainda assim estão do nosso lado, apenas não pertencemos mais ao mesmo mundo. E fui feliz com esses amigos. Fui feliz com o sorriso da saudade dos amigos que não via há tempos. Fui feliz com os abraços e colos nos momentos que eu mais precisei. Fui feliz! Sou feliz!
E a pergunta que Elis e Milton fizeram volta à tona: "O que foi feito amigo de tudo que a gente plantou?". Por fim, só posso dizer que não sabemos, vai ver que é porque a colheita ainda não tenha rendido os frutos merecidos dessas relações que se firmaram na história da nossa vida. 
Hoje eu senti a dor da ausência de todos os amigos, porque por hoje eles não puderam estar comigo...

Matou a família e foi ao cinema

O post de hoje reflete um sentimento que descobri intrínseco em mim. A frieza. Bom, há um tempo atrás eu sabia que isso já me pertencia, mas desde que me mudei, achei que tinha ficado mais emotivo, mais sentimental. Porém, acho que as coisas não são bem assim... De repente não consegui demonstrar tudo que as outras pessoas esperavam. A saudade, o carinho, enfim, nada. E não senti nada. Não quis simplesmente olhar para eles e dizer o quão importante elas eram, ou talvez nem fossem nada. Pois bem, acredito que essa forma de sentimento - ou ausência deles, sei lá - ainda não foi tratado, por isso devo conviver com ele. Se não me importo com o sentimento das pessoas, também não me importo com os meus, por isso 'deixa acontecer naturalmente'. 
Ao mesmo tempo que eu acredito que a frieza me pertence, eu acho que a questão é que eu sou extremista, isso sim. Talvez eu esteja apenas numa fase onde as coisas não me importam mesmo. Os amores não me importam, os outros não me importam. Estou vivendo por mim mesmo. Bem isso!!!
Acho que esse post funcionou mais como um desabafo desse momento que acabei de descobrir em mim. 
06 setembro 2010

Sem sentido...

Como quem não busca nada mais do que sexo, ele saiu pelas ruas com seu carro querendo algo a mais naquela noite. E a viu, num vestido vermelho, trajando um colar vulgar, bem como seus modos. E num salto quinze, ela andava com o cigarro aceso como quem não busca nada na noite - ou mesmo, na vida. Ele passou mais devagar perto dela e ela olhou. E num sinal mais do que sutil dela, ele voltou com o carro. E lhe perguntou se ela  estava "afim de algo". Ele lhe ofereceu dinheiro e ela aceitou. Saíram dali para sabe-se lá onde. 
Ela começou a se despir e ela a parou. Fixou em seus olhos e disse: _Não quero sexo!
Aquelas palavras não cabiam mais em seu contexto. Desde os primórdios de sua vida profissional, ela nunca ouvira tamanha recusa. Pois bem, ela resolveu ouvir o que ele tinha pra lhe dizer, qual seria sua justificativa. Ele não lhe disse nada, apenas a observou. Começou então a desabafar sobre os problemas que lhe apeteciam. Suas dores, suas lamúrias. Ela o ouviu, afinal, ele tinha lhe pagado. Estava lá para lhe atender. E em meio a toda a freneticidade de sentimentos e emoções do qual ele estava passando, ela se descobriu fria. Sem dar importância para o que se passava na vida daquele estranho, ela via suas lágrimas e nada dizia, ou fazia. Pois bem, ambos saíram saciados. Ele desabafou. Ela recebeu o que lhe era devido. Tal frieza se coloca diante dos movimentos da modernidade. No final de tudo, não nos importamos mais com os outros, vivemos um individualismo incontrolado. Fugindo da realidade e de nós mesmo, tentamos mostrar que somos capazes de agirmos assim, por nós mesmos. Tempos modernos em solidão arbitrária.

Do you think you can tell Heaven from Hell, blue skies from pain?

A verdade é que não sabemos muita coisa sobre o que nos rodeia. É que no final, não sabemos mesmo distinguir o bom do ruim, apenas assimilamos todas as coisas que nos acontecem. Mas o motivo é claro. Não existe o bom e o ruim. Ninguém é correto o tempo inteiro, ou ninguém é totalmente errado toda hora. Vamos deixar esse estereótipo de personalidades para as telenovelas com seus mocinhos e vilões. Nós erramos, mas muitas vezes tentamos acertar. E outras vezes acertamos sem saber o que nos levou àquilo. E em meio a erros e acertos, somos levados por uma maré de sentimentos que eu podia listar aqui, mas que prefiro que seja algo intrínseco no leitor. Algo que se refira apenas aos seus próprios sentimentos, independente de sua natureza. E por fim, somos todos iguais. O que é material não nos cabe mais. Você pode achar que esse meu discurso socialista reflete os pensamentos e opiniões formadas dos estudantes da, tão mal-falada, área de humanas. Mas não é nisso que quero chegar. É mais a fundo. É algo voltado para o psico.Tá bom, você pode dizer:_Mas o que você entende disso? Bom, daí eu respondo que o mesmo que qualquer um, porque eu penso. E se Descartes afirmou que quem pensa, logo existe. Eu existo! Ou seja, nós pensamos por nós mesmos. E sabemos o que se passa em nossa mente, mesmo sem classificá-las com aquelas palavras às vezes não cabíveis ao nosso contexto, onde só psicólogos e psiquiatras poderia usar. Bom, onde quero chegar com toda essa viagem?! A questão é que, somos todos auto-ditadas, independentes. Pensamos e agimos sem a presença do outro. Ou você não pensa se determinada pessoa não se encontra perto de você. O que se resume isso tudo é que, sabemos sim distinguir o céu do inferno, o bom do mal, com tanto que saibamos do que somos capazes. E no fim, esse não é um texto de auto-ajuda, se te sevir pra algo, se sacie dele, caso contrário, apague-o da sua mente. Pra mim, serve mais de relato de uma realidade que só vim descobrir há tão pouco tempo. 
O vazio. A ausência das palavras. Porque nada me passa na cabeça para que saia pelas pontas dos dedos e chegue do outro lado da tela, e do mundo? De repente não sei como começar um texto, um conto, ou coisas do gênero. Não sei. Talvez eu esteja cansado, não esteja inspirado. Talvez o Pink Floyd ao fundo não esteja me ajudando, ou a bandeira do estado de São Paulo diante dos meus olhos ofusque toda a imagem abstrato das Minas Gerais que tanto me encanta. Mas acho que esse último pelo menos não é. Até porque saciei minha fome com as belas paisagens ouro pretanas, com a beleza das Igrejas, do Horto e da Casa dos Contos, do Grande Hotel ou da Rua Direita. Coisas que quem foi em Ouro Preto sabe do que eu estou falando. E ontem Lavras Novas também serviu de colírio para marcar um dos feriados da Independência mais interessantes da minha vida. Agora mesmo assim, discursando sobre os acontecimentos. Escancarando minha vida aqui, para quem quiser ler. Mesmo assim não me encontrei. Não estou mais ciente do que se passa comigo. A inspiração sumiu. Quando o amor ocupa um espaço em nosso interior, pode ser que não caiba mais nada, mais nenhum sentimento. Porque ele é um sentimento egoísta, que se serve por si só. Pode ser isso, mas nunca sei ao certo o que vem a ser amor, ou o que deixou de ser paixão. Às vezes acho que nunca cheguei ao nível de amor. Apenas parei na paixão. Talvez seja pelo meu temperamento um tanto quanto instável. Minha vulnerabilidade sentimental. Mas não estou afim de falar sobre sentimentos, meus ou de qualquer pessoa. E muito menos sobre minha vulnerabilidade. Estou exigente hoje. Deve ser por isso que nada flui. Hum, mas se nos tornamos exigentes é para que algo saia da melhor maneira possível, então é correto ser "exigente". Depende. Talvez em doses homeopáticas, a exigência faz bem. Mas como no meu caso, devido ao meu extremismo, essa dose é mais forte, quase um tarja preta. E como tudo em excesso, faz mal. Bom, na tentativa de escrever algo, saiu alguma coisa. Algo sobre mim. Ainda penso que no fundo eu criei esse blog pra me conhecer melhor. Quem sabe não dá certo no fim de tudo?!
01 setembro 2010

Maria, Maria...

Maria não sabe pra onde ir, nem o que colocar na sua mala. Mas ela quer sair pelo mundo, sem rumo, sem um porque, apenas quer. Maria gosta desesperadamente das pessoas que fazem parte da vida dela, e demonstra por seus "amores" um amor incondicional. E ela sofre com a ausência deles. Maria é mãe, mesmo que indisciplinada ou inexperiente. E eu confio na razão e emoção de Maria, ela vai cuidar de seu filho e das pessoas à sua volta da melhor maneira possível. Maria é carinhosa, amiga. Escuta os outros mesmo que os outros não a escutem. Mas ela é temperamental, e demonstra seu afeto amistoso nos pequenos detalhes que só amigos de verdade sabem enxergar. Maria já brigou comigo, já brigou com o mundo, mesmo que sem razão. Mas ela soube voltar atrás, e se ela não o fez, os seus desafetos o fizeram, porque a amizade dela era necessária pra eles, e ela só não pediu desculpas porque ainda não se sentia preparada pra isso. Quem nunca teve vergonha de voltar atrás?! Pois bem, Maria sabe usar as palavras mais doces, nas horas mais apropriadas. E ela não é totalmente certinha, ela bebe, fuma, comete todos os pecados cabíveis a nós, meros mortais. E ela chora, claro. Tem sentimentos como todo ser humano. Ela reclama que está gorda, que não gosta das roupas, que ninguém a entende. E então Maria resolve mudar, pinta o cabelo de vermelho, as unhas de esmalte fluorescente, veste a roupa da moda e não liga de pagar por isso. Pega seu carro e em meio às montanhas sente que aquele momento, que aquele pequeno mundo lhe pertence por inteiro. Mas Maria não erra por errar, ela é mulher, e todas as suas atitudes têm uma justificativa. Ela bebe pra que o mundo lhe pareça mais apropriado e para que as pessoas a entendam melhor. A Maria amou só uma pessoa na vida, mas se apaixonou por várias. Pode ter beijado uma, duas, três ou incontáveis, porque ela também foi adolescente e se fechava no quarto com as amigas para fazer suas confissões nesse universo particular. Maria já sofreu acidente e por mais que tenha sido dolorosa a sua recuperação, ela superou todas as barreiras. Porque ela enfrentou coisas piores, como a perda de pessoas que ela nunca esperava que fosse acontecer.
Por fim, ela é bipolar, tem TOC, se contradiz, no fim nem sabe mais o que pensa. Suas atitudes são únicas, feitas para ela na medida adequada, onde só ela as entende e sabe porque tomou aquela decisão. Maria é psicóloga, farmacêutica, administradora, tradutora, jornalista, relações internacionais, enfermeira, professora, fisioterapeuta, mãe, irmã, prima, esposa. 

Maria é a junção das mulheres mais importantes que passaram na minha vida.