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18 dezembro 2013

Sobre o "ir embora" e a saudade.

Sabe aquela sensação desesperadora de ir embora? Então, me peguei passando por mais uma dessas crises. E cheguei à seguinte conclusão: só queremos ir embora quando estamos insatisfeitos. Precisei passar dos tão temidos/adorados 20 e poucos anos pra descobrir isso. Olhando pra trás, vi que a minha ida pra faculdade, talvez tenha sido mais uma fuga das coisas daqui do que necessariamente para fazer um curso bem conceituado. 
E assim foi durante os quatro anos de graduação, aonde eu ia daqui pra lá e vinha de lá pra cá, sempre que algo me incomodava em um dos dois lugares. Quando tudo chegou ao fim, eu pensei: E agora? Não terei mais um lugar para onde fugir quando os amigos daqui não me derem atenção, quando eu brigar com alguém ou não gostar da maneira como me tratam, quando eu me sentir um peixe fora d’água. E assim tem sido! 
Agora inventei um novo lugar pra fugir. Mais perto, para não passar pelas dores da distância (que eu sei quão doídas foram), porém longe o suficiente para criar novamente um mundo só meu. E eu mesmo me pergunto: Até quando isso vai dar certo Patrick? Não tenho uma resposta boa o suficiente. Sei que, assim como foi com Mariana, criarei laços fortes com as pessoas e quando eu decidir sair de lá, sentirei um pesar imenso de deixá-los pra trás. Mas acho que a vida é mais ou menos assim, né?! A gente cria vínculo e os desfaz com a mesma facilidade de quem desembrulha um presente; afinal, todo dia perdemos um pouco do que somos e do que adquirimos com o tempo. 
Ir embora nunca resolverá meus problemas, apenas os amenizará. E eu não sou o primeiro, muito menos o derradeiro, a tomar essa atitude. Quantos de nós já não nos pegamos pensando: Se eu for embora, encontrarei um “paraíso” do lado de lá, serei feliz, encontrarei o amor da minha vida, terei amigos que só me compreendam e lugares que me caibam. E raras são as vezes que isso acontece, já que em todo lugar existirá amores não correspondidos, amigos que serão seus amigos mesmo não concordando com tudo que você acredita e finais de semana “so boring”, em que passaremos o dia dentro de casa vendo um daqueles programas vespertinos apelativos e desnecessários. 
Mas mesmo sabendo que essa fuga de nada adianta, acho que a fazemos em busca de algo melhor. Porque se um dia a esperança de dias melhores acabarem, o que seremos de nós? Quando largamos algo pra trás, sabemos da saudade que sentiremos e que a qualquer momento iremos querer voltar para retomar os “laços invisíveis que havia”. Talvez porque o ser humano ainda saiba que a felicidade é uma “coisa” que só cabe no passado. Poucas são as pessoas que dizem serem felizes no presente, mais poucas ainda são aquelas que têm a fiel expectativa de um futuro perfeito e feliz. A única certeza da felicidade que temos é daquela que deixamos pra trás. Por isso, em vários momentos nos apegamos a fotografias, bugigangas e lembranças de nossa infância, adolescência, ou qualquer que seja a idade já vivida. Porque queremos sentir um pouquinho daquele momento de plena alegria, mesmo sabendo que voltar no tempo é algo impossível.
O “ir embora” funciona mais ou menos assim, tentamos encontrar num lugar novo traços do passado feliz. Tentamos encontrar em rostos novos certo amparo que irá nos remeter aos mesmos sentimentos vividos no passado, seja por um amor mal resolvido ou por uma relação inacabada. Mas ao mesmo tempo, precisamos desses novos ares com um único intuito: de valorizar o que está ficando para trás. A saudade machuca sim, mas ao mesmo tempo, nos mostra quem foi significativo em nossas vidas, quem passou e deixou uma marca em nossos corações e mentes. Triste daquele que nunca sentiu saudade, pois talvez não tenha vivido de verdade, não tenha experimentado o novo para poder sentir de volta o gosto do velho. Em minha opinião, os momentos mais felizes da minha vida eram quando eu voltava pra casa, fosse em Brazópolis ou Mariana; pelo simples fato de que eu estava sentindo que ia matar aquilo que me matava: a saudade. 
Sei que é da minha índole ir embora. Acho que nasci meio andarilho e assim pretendo ficar, até quando a idade me permitir. Outro dia uma amiga me disse que a cidade em que moro é muito pequena para mim, e talvez ela esteja certa. Mas não pequena no sentido de tamanho, propriamente dito, pequena no sentido de não caber meus sonhos, meus ideais. Mas ao mesmo tempo, sei que se nada der certo lá fora, estarei apto pra voltar quando eu quiser, pra sentir o cheiro da infância e encher meus olhos com as montanhas mais verdes e o céu mais azul que eu já vi. Mais uma vez faria da minha partida uma fuga, em busca de novos ares e nova gente, de um novo lugar para depositar minhas esperanças e colher minhas frustrações. Ir embora é se renovar, sem deixar que os pedaços partidos do passado fiquem perdidos pelo caminho, porque bons são aqueles que sabem dar valor à vida vivida, mesmo que o tempo só lhe traga bons frutos – melhores que aqueles já colhidos.