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14 janeiro 2011

Intimidade

A intimidade revela sentimentos que muitas vezes permanecem aprisionados em nós perante um grande número de pessoas. Não tenho irmãos, e não compartilho de um sentimento tão ímpar quanto a relação de dois irmãos. Mas me disponho a contar-lhes a vida de Pedro e Fabrício. Uma vida monótona sempre tiveram, com tudo o que mais desejavam. Fabrício, o mais velho se casou com uma bela moça, de cabelos negros e olhos compridos, olhos esses que nunca abandonavam as maquilagens mais pesadas que uma pele pode ter o prazer de sentir. Mas nunca foram felizes. Pedro, solteiro convicto, liberal e, porque não dizer, 'avançado' pra sua época sempre partilhou de grandes amores, sem dar muita importância para a cor ou o sexo do indivíduo com o qual se relacionava. Mas sempre manteve um distanciamento de sua casa, de sua família. 
Fabrício não era mais o motivo de satisfação para a mulher da maquilagem pesada. Agora ela procurava aventuras menos rotineiras nas alamedas da grande metrópole. Ele estava morrendo, por dentro e por fora, sabia disso. Mas não conseguia se desprender daquela mulher. Campainha. Seu pai. Malas feitas, lágrimas de desespero. Fabrício deixava o apartamento após uma tentativa de suicídio. Para a moça do rosto pintado, não fazia a mínima diferença onde estava seu marido. 
Pedro e Fabrício. O encontro dos irmãos que não se viam há anos foi seco, cru. Nenhum sinal de sentimento. Mas o convívio faz as relações se tornarem mais íntimas. E os ombros de Pedro foram o amparo de Fabrício nas madrugadas frias da capital. E suas mãos eram seu acompanhamento. Um toque a mais, um beijo a mais, um carinho além do normal. Os irmãos, quase amantes por assim dizer, tinham na intimidade uma liberdade e uma amizade com a qual nunca haviam se deparado. Entre abraços e beijos, a perda da mulher se fez presença no afeto do irmão, o qual por longo período não passava de um desconhecido. Dentro do quarto eram apenas os dois. Nem seu pai intrometia na intimidade dos dois irmãos. E assim como os pais, amigos e afins, eu nunca soube muita coisa além dessa intimidade tão bem controlada e amparada no seio de uma cidade com janelas tão indiscretas e olhos que tudo veêm. Na manhã de domingo, o pai pede ajudas dos meninos para mudar uma estante. Sem resposta o pai destrói a porta. Dois corpos desfalecidos aprisionados em sua própria intimidade. 

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